Lembrei há algumas semanas, no que ando a escrever por aqui, que durante o tempo todo no qual exerci a magistratura o velho Aristóteles me inspirou. Nada de ciência, prudência. Apenas prudência.
Em Atenas, caminhando com Tania pelo seu Ginásio, é como se o Estagirita estivesse ao nosso lado, ensinando-nos a sermos prudentes. O Ginásio de Aristóteles é, de repente, o agora. Mais do que a Ágora, esse instante em nosso caminho é o sempre.
Aprendi com ele que a interpretação é uma prudência, a phrónesis. Homem prudente é aquele capaz de deliberar corretamente sobre o que é bom e conveniente para si não sob um aspecto particular, porém de um modo geral, considerando o quanto possa nos conduzir à vida boa (não à boa vida!). Prudente é o homem capaz de deliberação. Mas jamais deliberamos sobre coisas que não podem ser de outro modo, nem sobre coisas que não dependem de nós.
A ciência envolve demonstração, mas as coisas cujos princípios podem ser outros não a admitem. A prudência não é ciência nem arte. O objeto da ciência é demonstrável, a arte visa à produção de algo novo. Aplicar-se a uma arte é considerar o modo de produzir alguma coisa que tanto pode ser como não ser, cujo princípio de existência está no artista. A arte não se ocupa com as coisas que são o que são por necessidade, nem com os seres naturais, que encontram em si mesmos sua origem.
Daí que a prudência não é ciência nem arte, é uma virtude, acompanhada de razão, capaz de agir na esfera do que é bom ou mau para um ser humano. A prudência é razão intuitiva que não discerne o exato, unicamente o correto. Não é saber puro, separado do ser. Prudência é serenidade. Ser prudente é ser sereno. Como são (deveriam ser) os juízes ao tomar decisões, praticando a juris prudentia, não uma juris scientia. Escrevi a respeito disso - a distinção entre lex e jus - aqui mesmo, na edição de 5 e 6 de maio passado.
O Ginásio de meu amigo Aristóteles é encantador. Qual Atenas, no seu todo, véspera de Paros. Além de tudo, após nosso passeio, uma "chose de loque" - como dizia o Jô Soares nos anos 80 -: um almoço com Tania e o guia que nos acompanhava. Um restaurante bem simples, do povo da cidade, o Moyzoyrakhs, onde almoçamos maravilhosamente, com cerveja, sucos e sobremesas, tudo por 30 euros, 10 por pessoa! A vida não pode ser, como diz aquela canção do Ivan Lins e vivo repetindo aqui, a vida é - de verdade - maravilhosa.
Ainda que seja assim, ao retornarmos a Paris soubemos da morte de Marc Ogeret, que nos encanta com suas canções. Velho camarada, sua partida nos entristeceu. Em sua luta final ele se foi, mas sua voz estará sempre aqui e no Céu.